quarta-feira, 19 de junho de 2013

Partida

Não sabia de lágrimas nem desesperos.
Amor nunca rimara com dor e o único medo era o de te perder, mas até esse tão remoto que quase esquecido. Quando o mundo era milimetricamente nosso, quando todos astros alumiavam o nosso caminho, quando… “amar” era uma palavra nossa e Amor era teu e meu.

Generosamente egoístas, amavamo-nos um no outro para um no outro nos perdermos e perdidos nos encontrarmos, desesperadamente felizes.
A tal costela perdida assumiu significado até aí desconhecido, quando amar-te corria o risco do narcisismo, parte dele que eras.

Nesses dias e noites, o fogo corria nas veias e êxtase era palavra banal, quando os olhares acendiam fogueiras que nunca nos queimariam, quando cada sentido tinha uma percepção singular e era usado como se fosse único.
Profético aquele “love will tear us apart” que nos fazia chorar e amar como se cada vez fosse a última vez.
Proféticos esses sentidos, esfomeadamente apressados.
Hoje as praias estão desertas e há raiva no vento a gemer-me aos ouvidos e há morte no mar, que antes era a força que lavava desesperos. Já não me cantas coisas sensualmente belas, o mar grita-me ódios milenares e não entende porque te foste embora, mas foste.
 Gonçalo d’Avellar

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