quarta-feira, 19 de junho de 2013

Despedida

Acordei em sobressalto.
Ao meu lado o teu lugar estava livre e apenas a dança de sulcos no lençol provava a tua presença recente.
O ruído abafado do chuveiro garantia-me que ainda estavas em casa.
O quente da cama abraçava-me cinicamente. …Tinha que me levantar. Era preciso.
O teu cheiro permanecia na minha pele e quase se tornava criminoso elimina-lo com a água do duche.

Entraste no quarto com um toalhão a cobrir-te o corpo.
 Os cabelos molhados emolduravam-te o rosto e “frescura” era a palavra que me vinha à cabeça.
Sorriste enquanto te secavas. Sem querer, dei por mim a fixar-te como se nunca te tivesse visto nua, como se fosse a primeira vez.
Adorei-te por mais uns instantes e nem ouvi à primeira o teu “não vais tomar banho?” acompanhado por aquele sorriso que me desarmava.
Á segunda respondi  “vou sim, claro”.
Ao passar por ti beijei ao de leve o teu ombro esquerdo,  sorvendo uma gota de água que deixaras ficar. O toque dos lábios com a tua pele teve em mim o efeito de sempre…….

Num suspiro, reapareci no quarto já com o duche tomado. Esperavas por mim.
O olhar cúmplice teve coro e os toalhões voaram para o chão.
Num abraço apertado e louco, rolámos na cama enquanto as nossas bocas se uniam apaixonadamente.
Contigo compus a mais bela sinfonia, de sons melosos, de danças frenéticas, de olhos embriagados de prazer. De novo éramos um só corpo, uma só alma.

Amamo-nos como se o mundo fosse acabar, numa profecia Maia de paixão.
Entregámo-nos àquela luta corpo a corpo como senhores da guerra, como gladiadores, num choque de peles suadas e corpos ardentes.
No final, ficámos imóveis, em silêncio.
Saboreando os espasmos com a avidez dos eternos amantes.
Gonçalo d’Avellar

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